Diversidade não é caroço, é semente – por Luiz Henrique Lima
Às vezes é necessário um olhar experiente para diferenciar um caroço e uma semente.
Há caroços reluzentes, mas estéreis, imprestáveis e indigestos. E há sementes de triste aparência, mirradas e despretensiosas, mas que proporcionam flores encantadoras ou frutos saborosos.
No organismo humano, caroços podem ser sintomas de enfermidades graves. Na natureza, as sementes requerem cuidados para que se desenvolvam plenamente, desde o plantio à colheita.
Quem limita a sua análise a um olhar superficial arrisca-se a duas espécies de erros: a) esbanjar tempo e recursos carregando caroços inúteis; e b) dissipar todo o potencial de sementes negligenciadas.
Na gestão corporativa, equívocos semelhantes acontecem com frequência.
Há certos modismos, geralmente com rótulos sofisticados, que não passam de enganadores caroços. E há sementes não óbvias, mas que trazem excelentes resultados no médio e no longo prazos. A diversidade é uma delas.
Com efeito, é fundamental que a composição da diretoria executiva e do conselho de administração considere a pluralidade existente na sociedade na qual a organização atua.
Foi-se o tempo em que a fotografia dos dirigentes expunha um conjunto de homens brancos acima de 50 anos e vestindo ternos escuros, resumindo-se as diferenças entre eles ao tamanho das circunferências dos respectivos abdomens e calvícies.
Hoje, é necessário que essa composição expresse a diversidade de gêneros, de raças, de gerações e de origens sociais e culturais. Não para dar um colorido politicamente correto à fotografia acima citada. Mas para enriquecer o debate das questões estratégicas com perspectivas diversas e inovadoras.
Num mundo que passa por acelerada revolução tecnológica, mudanças climáticas e instabilidade geopolítica, com significativos impactos para a economia global e os mercados locais, a melhor receita para o fracasso é uma mesa de decisões onde todos sejam homogêneos no modo de pensar, falar e até de se vestir. Por mais qualificados e experientes que sejam os seus componentes, ambientes monoculturais tendem a multiplicar vieses, ignorar sinais de mudanças ambientais, subestimar riscos e desperdiçar oportunidades.
Ao contrário, nas organizações que valorizam a diversidade e a inclusão, especialmente nos conselhos de administração, os processos decisórios são enriquecidos e fortalecidos pela complementaridade de visões distintas. Estudos acadêmicos e pesquisas de consultorias internacionais têm indicado a contribuição positiva que a diversidade traz para a governança corporativa.
A diversidade não é caroço, é semente que, se bem cuidada, trará resultados positivos para as organizações privadas e públicas e a sociedade.
Luiz Henrique Lima é Conselheiro Substituto do TCE-MT e professor.