Cultura tóxica e cultura ética – por Luiz Henrique Lima
No último Congresso do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa uma das palestras que mais me impactou foi a do consultor Alexandre di Micelli, que abordou o tema da cultura nas organizações.
De imediato, recordei a frase do guru Peter Drucker: “a cultura come a estratégia no café da manhã”.
Com efeito, o melhor planejamento estratégico não terá êxito se não estiver sintonizado com a cultura organizacional. E esta é determinada, não por declarações de princípios emolduradas para visibilidade pública, mas pelas atitudes e exemplos concretos emanados das lideranças.
Lideranças com comportamento tóxico disseminam uma cultura tóxica. E, ainda que possa produzir alguns resultados impactantes no curto prazo, uma cultura tóxica é o câncer que irá implacavelmente minar a sustentabilidade do negócio.
Entre algumas características da cultura tóxica descritas pelo professor Micelli, destacam-se: líderes inquestionáveis e arrogantes, exclusão dos que exercem o pensamento crítico, elevada pressão por adesão incondicional às diretrizes “de cima”, opacidade no sistema de incentivos, medo de retaliações e tolerância a violações éticas na busca de resultados.
O antídoto preconizado é a semeadura de uma cultura ética e saudável. Suas características, entre outras, são: transparência, justiça organizacional, diversidade e inclusão, cooperação, empatia, segurança psicológica, senso de comunidade e propósito.
Há pelo mundo múltiplos exemplos de grandes organizações, outrora líderes nos seus campos de atuação, que foram destruídas pela cultura tóxica e na sua queda arrastaram um universo de colaboradores, clientes, fornecedores e comunidades.
Nada obstante, ainda se observa um certo fascínio pelo mito de executivos carismáticos, geniais e infalíveis. Para alguns, a cultura ética é vista como “chata”. O líder sereno, que exerce a escuta ativa e não distribui impropérios aos subordinados, empolga menos que aquele com trejeitos teatrais e slogans motivacionais, que transita pela empresa com a chibata numa das mãos e um punhado de guloseimas na outra.
No entanto, é desse líder ético que necessitam cada vez mais as organizações privadas e públicas. Sem integridade na sua essência, não haverá perenidade na sua existência.
Luiz Henrique Lima é Conselheiro certificado CCA, D. Sc. pela COPPE-UFRJ e professor.